sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Será que eu sei?


  São Paulo, 02 de Setembro de 2016

   Ele, morador da comunidade. Cresceu nos corres da vida. Viu tanta coisa errada nessa vida que não caberia aqui. Batalhou, trabalhou desde pequeno para cuidar da família pobre da periferia.
   Ela, moradora de condomínio. Cresceu com a grande expectativa de seguir o pai, advogado bem sucedido. Viveu intensamente cada viagem que fez em suas férias, uma melhor que a outra. Desde de pequena, cobrada para cumpri seu papel na sociedade.

   Ambos prestam Fuvest. Ambos passam. Ele, pelo sistema de cotas, que uso sua nota que era uma das mais altas da turma. Ela, depois de estudar em colégios particulares e ter perdido várias horas em sua vida fazendo cursinho pré-vestibular. E talvez por mera coincidência, caem na mesma sala.

  Ele, depois de sair cansado do emprego e ter que pegar um ônibus lotado e ter demorado cerca de uma hora em meia no infernal trânsito de São Paulo, chega todos os dias para estudar. Ela por sua vez, vai de metro, apesar do pai insistir que ela deveria ir com o carro que ganhou. Mas ela prefere não ser mais uma nesse mar de gente, metal e poluição que se forma nas ruas.

   Ambos se olham, decidem trabalhar juntos no grupo que o professor pediu para que formassem. Vem as apresentações, se conhecem pouco, não precisam de intimidade, ainda mais por ser apenas mais um trabalho na faculdade.

   Com o tempo, as semelhanças começam a aparecer, discutir sobre futebol, gostos musicais, ou qual a melhor cerveja que se pode beber depois de um dia duro de trabalho, os aproxima. Tinham trocado os números de telefone para que pudessem marcar as coisas do grupo, mas com o tempo, foram seus aparelhos celulares que os aproximavam, enquanto não podiam ficar juntos.

   Era o início de mais uma história de amor...

   Bom, talvez não.

   Ele, morador da comunidade, ajudava uma O.N.G que ajudava as crianças de baixa renda. Infelizmente, o dono da O.N.G, filiado a determinado partido, também era envolvido com o tráfico da região, tinha o apoio da comunidade, pela ajuda que prestava.

   Ela, filha de um advogado renomado, que fazia doações a instituições de caridade e apoiava um determinado político, amigo de profissão, que infelizmente estava dentro de outro partido, envolvido em um sistema de corrupção.

   Infelizmente, nenhum dos dois partidos se davam bem. A comunidade contra o condomínio. Ele, por não poder retroceder e trair o movimento, permanece com sua ideologia política. "Eles não prestam por serem corruptos".

  Ela, tinha que proteger a integridade moral da família. "Como apoiar um partido que tinha como candidato, aquele que era conhecido como o chefe do crime na comunidade".

   Visões políticas. Ele não era um bom pretendente, era de esquerda, apoiador de causas sociais. Ela, não era tão diferente, como era filha da classe média paulistana, não sabia o sofrimento das pessoas e queria apenas enriquecer nas custas do pai.

   É, o fim de um linda história de amor. Pois não importava se ele era um bom rapaz, longe da criminalidade, que acordava as 5 da manhã para trabalhar, pegava dois ônibus lotados. Voltava depois da meia-noite, pois além do trabalho, ele era um cara estudioso.

   Da mesma forma que não importava o fato dela, boa moça, bem educada, que acordava as 6 da manhã para trabalhar também, e que de preferência, pegava transporte público, pois queria desafogar um pouco o caos que era a cidade. Trabalha em uma agência de publicidade, que tem foco em ajudar bairros carentes em outras regiões da cidade.

   Sim, muitas vezes o amor morre por um motivo estúpido como esse.


#DiárioDaCidadeCinza



Um comentário: